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Tudo&Nada

Retalhos de tudo...e de nada...

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Estás aí, sentada à janela, com o olhar perdido na linha do horizonte. Sorris para o nada, perdes o pensamento em tudo. O sol reflecte os traços do teu rosto, ilumina os teus cabelos negros esvoaçantes ao sabor de uma pequena aragem de fim de tarde, os teus braços imaculados de branco jazem no parapeito, em busca de alguém que os volte a aquecer para o mundo, esse mundo que não cessa para lá da tua janela. O vestido de seda branca colado ao teu corpo de rainha desenha as tuas formas fatais, perfeitas e corre pela tua cintura transformando-se em farrapos à medida que caminha pelas tuas pernas longas de filme francês.
Pegas num cigarro que acendes com um fósforo oportuno (ia jurar que o tinhas acendido com o brilho do teu olhar…) e leva-lo à boca, pintada de sangue vivo, desesperada por mais um travo com sabor a vício. Brincas com as ondas do cabelo, alheada de qualquer realidade existente, trincando levemente o lábio…e eis que entra, no calor da intimidade do teu quarto, uma folha seca de Outono. Assustas-te, parecia outra coisa…sombras. Do lábio escorre um fio de sangue que mancha o teu vestido branco, ping ping, duas gotas, duas almas. Engraçado…A folha foi pousar precisamente em cima da tua almofada, aquela a quem confidencias as tuas mágoas, os teus sonhos de menina. Levantas-te graciosamente e deambulas pelo quarto, descalça no soalho de madeira velha, deixando um rasto de alvura atrás de ti até chegares à cama e pegares na folha morta, prostrada na almofada.
Está escrita. A batom vermelho? Lês: “Abre a porta.”. “Será que…?” – pensas – “Não…Não pode ser…”. A confusão estampa-se no teu rosto sempre impenetrável. Caminhas, a medo, em direcção à porta. Por momentos paras. Um arrepio electrizante percorre todo o teu corpo, puro em sensações mas tão quedo, tão mudo, sempre tão inacessível… Abres a porta. Nada. Apenas um leve aroma que se entranha rapidamente em ti, olhas para baixo e reparas numa rosa branca caída a teus pés. Apanha-la lentamente e sorris. Esse sorriso que ilumina qualquer sombra. Sorrisos. Sombras. Tu. Só tu. E a rosa branca.

[to be continued]

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