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Tudo&Nada

Retalhos de tudo...e de nada...

segunda-feira, abril 16, 2007

Há tanto tempo que não sentia o sol na cara e os olhos vergarem-se sob o seu peso. A sensação de banho acabado de tomar é tão boa, faz-nos parecer tão livres e o vento que passa entre cada fio de cabelo seco e nos afaga, faz-nos sentir um friozinho bom, libertador.
Entro no comboio e coloco os phones (já não fazia isto há muito), ouve-se o apito e ele parte, com destino, o que é uma pena.
Observo a paisagem que estou acostumada a ver todos os dias mas hoje, ao sabor da música, parece que se move de maneira diferente. As árvores estão de um verde mais escuro e movem-se mais rápido que o habitual, as pessoas na estação estão cabisbaixas e colocam-se a uma distância de segurança umas das outras. Porque será que não se aproximam?
A casa branca ainda está no mesmo sítio e continua eternamente à espera que a restaurem. Bem merecia, branca, de estilo senhorial, as janelas de um turquesa claro e à volta motivos florais, lembra o tempo dos escravos e dos senhores do café no Brasil. Não sei muito bem porquê o Brasil… há algo nela… não sei, talvez as casas tenham essência e esta entranha-se em nós e faz-nos ter estes pensamentos dissonantes.
Decididamente a música que vou ouvindo condiciona o meu olhar sobre as coisas. Se é mais calma ou romântica (would I lie to you baby…) reparo em como o dia está bonito com o sol tão forte, o céu tão azul, apesar das pequenas nuvens que o decoram, as árvores esguias e abraçadas, os pássaros cortantes. Se é mais triste e depressiva esqueço o meu medo de túneis e anseio pela sua escuridão, observo que o Homem mata a Natureza com o seu egoísmo (o m.q. obras e mais obras) e desejo que a viagem não termine. Talvez a música seja um estado de espírito. De qualquer maneira, é o nosso estado de espírito que decide as músicas que ouvimos e, portanto, o nosso olhar sobre a realidade.
Quando se tem um aperto no coração o que é que isso pode significar? Mau pressentimento? Que se está triste? Ou pura e simplesmente que não se sabe o que fazer?
E esta miúda que se sentou à minha frente tem um olhar tão assustado… Tem calma que ninguém te faz mal, apetece dizer-lhe. Não é preciso teres os braços cruzados a proteger o peito, ninguém te rouba o coração, e essa desconfiança no olhar… Não és bonita e o cabelo escorrido dá-te um ar de abandono (abandonaram-te? Ou pior, abandonaste-te?) mas esse olhar triste abona em ter favor. Há sempre algum coração mole pronto a acolher os miseráveis da vida.
Que banco era aquele no meio do nada com imensas flores amarelas pequeninas em volta? Talvez já tenha sido refúgio de namorados e as flores tenham crescido com as lágrimas da saudade… Se calhar já foi poiso de uma velhota, daquelas muito velhotas, que gostam de fazer bolos e pôr flores em jarras para perfumar a casa, quando vêm os netos.
E porque é que os bairros sociais são sempre tão feios e com prédios paralelos e iguais? Porque é que não gosto de homens de bigode mas barba já acho tão sexy?
Continuas triste miúda… O que te aconteceu? Escondes as mãos com a blusa, foi algo que fizeste?
Não gosto que me olhem por cima do ombro enquanto escrevo, nada mesmo! (sim, é para tu aí que estás ao meu lado).
Ah! A ponte. Enfim, a ponte, Apesar de fazer esta viagem sempre, adoro este momento. O Tejo estendido ao longo desta Lisboa adormecida.
Bela mensagem para me mandares agora. Tu ou o meu futuro.
Parece-me que não tenho escolha, não é?

5 Comments:

  • At 11:26 da tarde, Blogger J. said…

    é a tua cara... eu adoro entrar e sair d lx e apesar das tuas viagens serem cansativas também sabem bem ou não!? acho q sim...

    gosto d comboios!

     
  • At 8:05 da tarde, Blogger Sofia said…

    Gostei imenso do teu texto. Tornaste um simples dia normal, num reflexo, numa paisagem do teu espírito interior, das tuas energias. Coloriste pormenores que reflectem todos os sorrisos escondidos no interior mas que muitas vezes não mostramos cá para fora, como aquelas pessoas que estão cabisbaixas e não se aproximam umas das outras...

    Parabéns pelo texto...
    Sofia

     
  • At 10:30 da manhã, Blogger Francisca said…

    De facto há uma certa magia ao atravessar a ponte, com o sol a nascer ou com o sol por-se! e se a juntares à magia da música... conseguiste um texto lindissimo!

     
  • At 8:20 da tarde, Blogger StupiDreamer said…

    as viagens na fertagus ;)

     
  • At 8:50 da tarde, Blogger Agregador said…

    uau q poema q escreveste! tive de respirar fundo no fim da última palavra.

    e... quanto à pergunta final... nem o mundo é a preto ou branco, nem as escolhas têm de ser definitivas...

     

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