To my little star
Ontem foi a pior noite da minha vida. Estava quase a dormir e lembrei-me. Lembrei-me que um dia vou morrer, óbvio, só que comecei a pensar, não na morte mas nas minhas coisas e em como nunca mais lhes vou poder tocar. Vou simplesmente deixar de existir, para sempre, neste mundo. Fez-me tanta confusão. Fiquei angustiada, o meu coração ficou quietinho na minha mão.
Como eu te compreendo, Ana, também eu penso, na imensa escuridão do meu quarto. À noite. Sozinha o frio vem e completa-me.
Ontem pensei doutra maneira, não foi de morrer, foi de deixar de existir, de ter, de tocar, de sentir. Como é possível tudo isto continuar e eu NUNCA mais ver?
É possível, Ana, tudo é possível neste universo infinito onde cada uma de nós não é mais que uma poeira cósmica. O mundo não precisa de nós para continuar a girar nem as pessoas precisam de nós para continuar a respirar. Assim que morremos tudo prosseguirá exactamente na mesma e o curso da vida correrá como corre o rio, indiferente às pedrinhas que lhe vamos atirando.
Estive o dia todo revoltada com a vida por causa disto.
Revolta-te Ana. Mas não com a vida pois ela é o nosso único verdadeiro tesouro. Revolta-te com todos eles, seres indiferentes, mundo indiferente que nos volta as costas para caminhar em frente no nosso último suspiro, aquele em que estás completamente só, só contigo.
Faz-me confusão o mundo continuar e eu deixar de existir, ser insignificante...Eu ser nada, ter nada...E sinto que nós não aproveitamos bem...
Pois não Ana, bem sei que não. Vivemos para estudar, estudamos para trabalhar, trabalhamos para morrer...Não, Ana, não me perguntes qual é o sentido de estarmos aqui hoje, sob esta forma que somos nós, o que temos para dar, o porquê de sermos precisamente assim e não precisamente diferentes. Não me perguntes, Ana, porque tal como tu...
Não sei.