Não sei..

Encontraste-me perdida na minha concha.
Querias o impossível...Que eu saísse dela.
Saí e aqui estou eu a causar-te problemas.
Saí e aqui estou eu bem longe dela.
Agora tenho medo de voltar
E medo, medo de continuar
Quero o que não queres e o que não quero
Quero tanto que já nem sei...
Quero ser feliz na paz da minha concha
Sozinha, sem ninguém...
Mas isto?Já nem sei...
E amo-te, amo-te como sempre te amei.
Mas tenho medo, medo como ninguém...
E não sei...apenas...não sei.

Estás tão só como antes.
Mas agora estás mais só
Porque antes estavas só
E agora estás só com ele.
E então estás só como antes.
Mesmo só.
Olhas para todos os lados
Gente, gente, gente, gente
E tu só como antes.
Olhas para o teu lado
Ele, ele, ele, ele
E tu tão só como antes.
E ele acompanhado por ti.
Acompanhado e tu só.
Só com ele.
Só como antes.

O tempo passa
As horas passam
tic tac tic tac
As flores murcham
Os homens caçam
Os sonhos perdidos
No Templo do Além
Mas não os atingem
Não os dominam
Perdem-se também

E o tempo corre
tic tac tic tac
E as vidas correm
tic tac tic tac
E eles gritam
tic tac tic tac
E a noite morre
E a vida morre
E a morte morre
tic tac tic tac
Morre.

Ausência

Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.

Sophia de Mello Breyner Andersen